quinta-feira, 24 de julho de 2014

IKÓÒDÍDE





Ola irmão de axe!


Quem de nós, adeptos do culto de Òrìsà, não conhece a pena de cor vermelha denominada ìkóòdíde? Amplamente utilizada em nossos rituais? O que muitos não sabem, como eu também não sabia, é que essas belíssimas penas estão presentes somente na cauda de um papagaio africano que tem o restante das penas acinzentadas.


Quero fazer um convite ao amigo leitor para conhecermos um pouco sobre este papagaio africano, e assim entender a simbologia de ìkóòdíde dentro do culto de Òrìsà, pois como nos ensina Juana Elbein dos Santos: “…desvendar as correspondências dos símbolos e os interpretar nos permite explicar os conteúdos do acontecer ritual.” (2002, p. 24;25)

Denominado Odíde entre os Yorùbá, o papagaio cinza africano ou papagaio do Congo, pertence a espécie Psittacus erithacus, é exclusivamente africano e originário da África ocidental e central, desde a Costa do Marfim até o Congo. É uma ave de porte médio que mede de 35 à 40 centímetros, a cor base de suas penas é o cinza, mas escuro na parte superior do corpo que no peito e ventre, terminando na cauda curta e quadrada de cor vermelho carmim, a região em torno dos olhos é branca e desprovida de penas. Não existe diferença na aparência entre machos e fêmeas e pode-se calcular que uma ave desta espécie viva até aos 70 anos.

Vivem aos pares, e em grandes bandos, ocupando as floretas de planícies, savanas com árvores e ocasionalmente plantações, particularmente de palmeiras, pois sua comida preferida são as “nozes” das palmeiras ricas em óleo. Apresentam quase que constantemente um comportamento monogâmico, podendo levar ao óbito do companheiro a ausência do outro. Na época do acasalamento o par abandona o bando e ambos se revezam no choco.

A sua cor cinzenta em “degrade”, terminando na cauda de cor vermelho carmim, são características únicas, no entanto, as particularidades que o caracterizam no mundo inteiro, mesmo para as pessoas que têm poucos conhecimentos sobre papagaios, são a sua habilidade de repetir palavras e a sua inteligência. É comum entre os papagaios a reprodução de determinadas frases ou sons, mas o papagaio cinza africano distingue-se dos seus parentes por ser considerada uma das espécies de pássaros mais inteligentes do mundo, já tendo sido comparado com golfinhos e chipanzés.

Essas habilidades do papagaio cinza já eram mencionadas em antigos documentos gregos e romanos, ao ponto de ser citado por Plínio, um naturalista romano, na sua “História Natural”.
Infelizmente este papagaio tem vindo a desaparecer dos seus hábitats naturais devido ao desflorestamento e à sua captura para o mercado de animais de estimação.

Os portugueses, primeiros europeus a explorar a costa ocidental da África a partir do século XV, qualificaram os negros de origem Yorúbá, assim como outros de origem africana, de “animista”, por considerarem todos os seres da natureza dotados de vida. Na verdade ele concebe que toda manifestação viva, seja ela, animal, mineral, ou vegetal, é dotada de uma “força vital”, denominadaìpònrí, que pode ser usada a seu favor.

A partir desse olhar passamos a compreender que cada elemento utilizado nos diversos rituais possui uma força específica, em outras palavras, um àseespecífico, e conhecê-lo torna-se fundamental a fim de que possamos direcioná-lo para o objetivo que queremos alcançar.

Ora, vimos que esses elementos têm um significado simbólico, sendo assim a pena ìkóòdíde representa o próprio papagaio cinza com todo o seu potencial, e utilizá-la significa trazer para nós todo este poder.

Entre os Yorùbá tradicionais, as diversas formas de ebo funcionam como “mensagens codificadas”, ou seja, cada elemento que o compõe reflete uma necessidade do indivíduo a ser entendida e atendida por Olóòrun, o criador de todas as coisas, logo, utilizar a pena ìkóòdíde significa buscar atributos como a longevidade, pois vimos que Odíde pode chegar aos 70 anos de vida; inteligência, pois vimos também que é um dos pássaros mais inteligentes do mundo e estabelecer uma relação familiar com nossa ancestralidade, pois vimos o quanto são fortes as relações familiares dessa ave, tanto no nível conjugal, como no nível grupal.

Ìkóòdíde está presente também no igbá orí. Dentro do culto de Orí, na cultura Yorùbá, mantém-se organizado o igbá orí, uma kabasa redonda que representa simbolicamente a nossa cabeça interior ou espiritual – orí inú. Nela estão contidos vários outros elementos, respeitando a individualidade de cada cabeça, e de acordo com as características e propriedades de cada um deles.

Verificamos também que ìkóòdíde está presente nas “representações materiais” de Èsù, aquele que “é o princípio da comunicação;… o mensageiro no sentido mais amplo possível: que estabelece relação do àiyé com o òrun, dos òrìsà entre si, destes com os seres humanos e vice versa. É o intérprete e o lingüista do sistema.” (Juana Elbein dos Santos, 2002, p. 165). 

Èsù, tem ainda o título deenúgbáríjo – boca coletiva – por representar os òrìsà e nós, humanos, diante de Olóòrun.
Fica claro que a pena de ìkóòdíde entra na representação material de Èsù, a fim de simbolizar a sua capacidade de comunicação, inerente também ao papagaio odíde.

Há um ìtan entre os Yorùbá tradicionais que conta que Odíde não foi sempre cinzento e nem tinha as penas da cauda vermelhas:

“Olóòrun decidiu promover uma competição para ver qual pássaro tinha as penas mais bonitas, assim todos os pássaros do mundo começaram a se preparar, melhorando a sua beleza. Naquele tempo, Odíde tinha a plumagem toda branca e, ao contrário dos outros pássaros, não fazia nenhum tipo de preparação. Os outros pássaros começaram a ficar preocupados e queriam saber por que, enquanto eles se preparavam tanto, Odíde não estava fazendo nada. Eles se uniram e resolveram estragar a beleza natural de Odíde jogando cinzas em cima dele, só que não teve o efeito esperado, pois as cinzas se dispersaram com o vento. Procuraram então um feiticeiro, que lhes deu um preparado mágico que transformaria as penas da cauda dele em vermelhas. Os outros pássaros ficaram bastante confiantes que Odíde, agora, não participaria da competição.

Só que, ao contrário do que eles pensavam, Odíde não só participou da competição como ganhou, Olóòrun o premiou dizendo que ‘Odíde era realmente o pássaro mais bonito, porque a verdadeira beleza está do lado de dentro do ser’.”

Em território Yorùbá, quando reis são coroados, ou quando pessoas ingressam no sacerdócio religioso, trazem sobre a cabeça uma pena vermelha da cauda deOdíde, para os lembrar que a verdadeira beleza é a interior. Ritual este que foi mantido no Candomblé brasileiro.

Um certo papagaio chamado “Alex”: Destaque de programas de TV e de artigos científicos, “Alex”, um papagaio cinza africano, ganhou fama pelos EUA e pelo mundo por sua capacidade de comunicação.

A ave foi comprada pela psicóloga americana Irene Pepperberg, pesquisadora das Universidades americanas Brandeis e Havard, em 1977 em uma loja de animais de estimação, quando tinha 1 ano de vida. As pesquisas dela com este papagaio renderam avanços científicos significativos sobre cognição das aves. Foi a partir desses estudos que se descobriu que papagaios não apenas repetem sons, mas são capazes de entender conceitos.

Usando novos métodos de ensino, Pepperberg estimulou Alex a aprender grupos de palavras e a contar pequenas quantidades, além de fazer o reconhecimento de cores e formas. Alex chegou a chamar uma maça de “banereja”, porque a fruta é vermelha por fora (como a cereja) e branca por dentro (como a banana).

Ase o

Porque Osala usa Ekodide?




Olá irmãos de axe!

uma lenda sobre essa pena tão essencial e valiosa em nossa cultura! o Ekodide! 


Por que Osala usa Ekodide (transcrição do livro Porque Oxalá usa Ekodidé - Deoscóredes M dos Santos-DIDI -Edição Cavaleiro da Lua - Fundação Cultural do Estado da Bahia - foi mantida a ortografia original do manuscrito)


"Muito tempo depois que Oduduwa chegou em Ilê Ifé e começaram a adorar o culto das Águas de Oxalá, aconteceu que, logo no primeiro ano, quando estava perto das festas Oxalá escolheu uma senhora das mais velhas do terreiro, chamada Omon Oxum, para tomar conta de todo, ou melhor, de tôda sua roupa, adornos e apetrechos, depositando com tôda benevolência nas mãos dela aquele direito especial para tomar conta detudo que lhe pertencesse, da corôa ao sapato.

Omon Oxum por nunca ter tido nenhum filho, criava uma menina. Dessa data em diante ela e a menina ficaram sendo odiadas por algumas pessoas que faziam parte nesse terreiro e que por inveja de Omon Oxum começaram a tramar novidades, procurando um meio qualquer para fazer Oxalá se zangar com ela e tomar o "achê" entregue por Oxalá. 

Fizeram coisas que Deus duvida contra Omon Oxum porém nada surtia efeito. Cada vez mais Oxalá ia aumentando a amisade e dedicação para Omon Oxum. Ela era muito devotada ao cumprimento das suas obrigações e não dava margem alguma para ser por êle repreendida. 

Como dizem que a água dá na pedra até que fura, aconteceu que, na vesperado dia da festa, as invejosas, já desiludidas por poderem fazer o que desejavam, de passagem pela casa de Omon Oxum se depararam com a corôa de Oxalá que ela tinha areiado e colocado no sol para secar. Quando elas viram a corôa de Oxalá muito bonita e mais reluzente do que nunca, combinaram roubar a corôa e ir jogar no fundo do mar. E assim fizeram. Quando Omon Oxum foi apanhar acorôa para guardar, não encontrou. Ficou doida. Procura daquí procura dalí, remexeram com tudo procurando em todos os cantos da casa e nada da corôa aparecer. 

As invejosas vendo a aflição que estava passando Omon Oxum e sua filhinha, satisfeitas pelo mal que tinham causado, riam as gaiofadas dizendo: agora sim quero ver como ela vai se atá com Oxalá amanhã quando êle procurar a corôa e não encontrar. A essa altura Omon Oxum corretamente azurantada só pensava em se matar e ja estava resolvida a fazer isso para não passar vergonha perante Oxalá. Foi quando ameninazinha, sua filha de criação disse: 

- Mamãe, porquea senhora não vai na feira amanhã de manhã bem cedinho e compra o peixe mais bonito que tiver lá? A corôa de Oxalá deve estar na barriga desse peixe. 

E assim a menina insistiu, insistiu tanto, até que Omon Oxum se decidiu a aceitar o que a menina aconselhou, dizendo:

- Fique tranquila minha filha, porque de madrugadasinha eu vou acordar para ir à feira ver se encontro com esse peixe que voce imagina ter a corôa do nosso Rei Oxalá na barriga. 

A menina foi dormir tranquila. Omon Oxum coitada, não pôde dormir tôda anoite preocupada que já amanhecesse o dia para ela ir a feira ver se conseguia encontrar o dito peixe que a menina julgava ter a corôa na barriga. Quando o dia mal tinha clareado, Omon Oxum pulou da cama, se preparou elá se foi. Quando ela chegou na feira foi diretamente no mercado de peixe e não encontrou nenhuma escama. Ainda éra muito cedo. Omon Oxum deu uma volta pela feira e já bastante impaciente voltou ao mercado onde encontrou um senhor vendendo um peixe, cujo peixe, era o único que se encontrava no mercado. Omon Oxum comprou o peixe e foi voando para casa a fim de destrincha-lo. Queria ver se sua filha tinha aconselhado bem, para ela poder obter a paz e tranquilidade espiritual, encontrando a corôa de Oxalá. 

Assim que ela chegou em casa foi logo para a cosinha para abrir a barriga do peixe. Porém não conseguiu. Quando ela estava aí se acabando de chorar e labutando para abrir a barriga do peixe, a menina acordou e foi logo perguntando: 

- Mamãe já comprou o peixe? A senhora deixa que eu abra a barriga dele? - Omon Oxum bastante chorosa respondeu:

- Minha filha a barriga dele está muito dura. Eu não posso abrir quanto mais você. 

A menina se levantou, chegou na cosinha, apanhou um cacumbú e puxou rasgando a barriga do peixe, ésta se abriu em bandas deixando aparecer a corôa de Oxalá ainda mais bonita do que era antes. 

Omon Oxum se abraçou com a menina e de tanto contentamento não sabia o que fazer com ela. Carregava, beijava, dansava, e por fim Omon Oxum olhando para a menina e em seguida voltando as vistas para o céu, disse: 

- Olorun, Deus que lhe abençoe. Sua maesinha está sendo perseguida, porém com a fé que tem no seu Eledá, anjo da guarda, não ha de ser vencida.

Limparam muito bem limpa, a corôa, e guardaram, muito bem guardada, juntamente com o resto das coisas pertencentes a Oxalá. 

Em seguida Omon Oxum cosinhou o peixe, fez um grande almôço e convidou a todos da casa para almoçar com ela dizendo que estava festejando o diada festa do Pai Oxalá. Ao meio dia Omon Oxum juntamente com seu, quero dizer, sua filhinha serviram o almôço acompanhado de Aluá ou Aruá, a bebida predileta de Oxalá a qual os Erê dão o nome de mijo do pai. Depois do almôço todos foram descansar para na hora determinada dar começo a festa das Águas de Oxalá. As invejosas quando viram todo aquele movimento, Omon Oxum muito alegre como se nada tivesse acontecido a ponto de dar até um banquete em homenagem a Festa de Oxalá, ficaram malucas. 

Uma delas perguntou:

- Será que ela encontrou a corôa? - Outra respondeu:

- Eu bem disse que queimasse. - E a outra mais danada ainda dizia:

- Eu disse a vocês que o melhor era cavar um buraco bem fundo e enterrar. 

- A primeira procurando acalmar os animos, disse para a outra:

- Vamos esperar até a hora que éla apresentar as roupas de Oxalá com todos os armamentos. Se a corôa estiver no meio o geito que temos é fazer um grande ebó e colocar na cadeira onde éla vai se sentar ao lado de Oxalá. - O ebó, sacrificio, póde ser empregado para o bem ou para o mal.

Quando estava perto da hora de começar a festa, Omon Oxum apresentou a Oxalá tôda a roupa com todos os armamentos deixando as invejosas mais danadas e com mais desejo de vingança, a ponto de procurarem fazer o ebó por elas idealisado e colocar na cadeira onde Omon Oxum era obrigada a sentar-se por ordem de Oxalá. 

Começou a festa com a maior alegria possivel. Oxalá chegou acompanhado por Omon Oxum e se sentou no trono. Omon Oxum sem saber do que estava sendo feito contra ela, também se sentou na sua cadeira ao lado de Oxalá. Quando começaram as cerimônias e que Oxalá precisou de colocar a sua corôa, virou-se para Omon Oxum e pediu para éla ir apanhar a corôa. Omon Oxum quiz levantar e não pôde. Fez força para um lado, para o outro, e nada de poder levantar-se, até quando é la decidiu levantar-se de qualquer maneira. Devido a grande dor que sentiu, olhou para a cadeira e viu que estava tôda suja de sangue. Alucinada de dor, e horrorisada por saber que Oxalá de fórma nenhuma podia ter nada de vermelho perto dêle porque era ewó, proibição, saiu esbaforida pela porta afora, indo se esbarrar na casa de Exú. Quando Exú abriu a porta que viu Omon Oxum tôda suja de vermelho, disse:

- Você vindo dêsse geito da casa de meu pai? Infringiu o regulamento e eu não posso lhe abrigar,- e fechou a porta. 

Daí ela foi para a casa de Ogun, Oxossi, de todos Orixás e sempre diziam a mesma coisa que disse Exú. Só restava a casa de Oxum. Quando Omon Oxum chegou a casa de Oxum, esta já tinha sabido do que estava acontecendo e estava a sua espera. Omon Oxum se jogando nos pés dela disse:

- Minha mãe me valha, estou perdida. Oxalá não vai me querer mais em sua casa. Oxum disse para ela que não se preocupasse, que um dia Oxalá ía buscar ela de volta. Depois Oxum, usando de sua magia, fez com que, do lugar onde sangrava em Omon Oxum saisse Ekodide, pena vermelha de papagaio da costa, até quando sare a ferida. Oxum, depois de colocar todo aquêle Ekodidé numa grande igbá, cuia, reuniu todo seu pessoal e tôdas as noites faziam um xirê, festa, cantando assim:

"BI O TA LADÊBI O TA LADÊ IRÚ MALÉIYA OMIN TA LADÊ OTO RU ÉFAN KOBÁJAOBIRIN IYA OMIN TA LADÊE" 

Assim Oxum ricamente vestida, sentada no seu trono, com Omon Oxum ao seu lado, a cuia de Ekodidés e a vasilha para colocarem dinheiro em frente a elas, recebia as visitas de todos os Orixás que iam até lá para ver e saber porque Oxum estava fazendo aquela festa tôdas as noites. Todos que lá chegavam e se enteiravam do acontecimento, si era homem dava dóbálé, se estirava de peito no chão para Oxum, depois apanhava um Ekodidé e colocava uma certa quantia na vasilha que estava ao lado para ser colocado o dinheiro, e se era mulher dava iká, quer dizer, se deitava no chão de um lado e do outro para Oxum e em seguida apanhava um Ekodidé e colocava também o dinheiro na referida vasilha. Tudo aquilo que estava acontecendo no palácio de Oxum, ficou sendo muito propalado e as invejosas faziam todo possivel para que Oxalá não soubesse. Um dia, elas, sem observarem que Oxalá estava por perto, começaram acomentar o caso, onde uma delas disse:

- Com ela não tem quem possa, depois de tudo o que nós fizemos, depois deter acontecido o que aconteceu aqui no palácio de Oxalá e de ter sido enjeitada por todos Orixás, vocês não estão vendo que Oxum abrigou ela? Curou, conseguindo que do lugar que sangrava saisse Ekodidé, fazendo uma grande fortuna e aumentando a sua riqueza. Agora só nos resta é fazer com que o velho não saiba do que está acontecendo no palácio de Oxum, se não é bem capaz de querer ir até lá. 

Nisso o velho Oxalá pigarreou dando a entender que tinha ouvido tôda a conversação. Ordenou a elas que procurassem saber a hora que começava o xirê no palácio de Oxum e que elas iam servir de companhia para êle poder ir apreciar o xirê e tomar conhecimento do que estava acontecendo. Quando elas ouviram Oxalá falar desta maneira bem pertinho delas a terra lhe faltaram nos pés e o remorso montou nos seus cangótes fazendo com que elas fugissem para nunca mais voltar ao palácio de Oxalá. 

A noite, depois do jantar, Oxalá cansado de esperar pelas tres invejosas e não vendo nenhuma delas aparecer, disse:

- Fugiram com medo de que eu castigasse pela grande injustiça que cometeram, não sabendo de que o castigo será dado pelas mesmas. Assim Oxalá se dirigiu para o palácio de Oxum afim de assistir o xirê e saber qual a causa do mesmo. Quando Oxalá chegou no palácio de Oxum mandou anunciar a sua chegada. Oxum mais bonita do que nunca, coberta de ouro e muitas jóias dos pés a cabeça, sentada no seu rico trono, mandou que Oxalá entrasse, e continuou o xirê cantando: 

BI O TA LADÊ, BI O TA LADÊ, IRÚ MALÊ, IYA OMIN TALADÊ.

Quando Oxalá entrou ficou abismado de ver tanta riquesa e quando reparou bem para Oxum, que viu a seu lado Omon Oxum, a pessoa que cuidava dele e de tôdas suas coisas, a quem ele julgava ter perdido devido o que tinha acontecido, não se conteve, se jogou também no chão dando dóbálé para Oxum, apanhando um Ekodidé e colocando bastante dinheiro na vasilha. Oxum quando viu o velho dar dóbálé para ela, se levantou cantando:

DÓDÓ FIN DODÓBÁLÉ KÓ BINRIN IYA OMIN TA LADÊ 

E foi ajudar a Oxalá se levantar do chão. Depois que Oxalá se levantou Oxum pegou Omon Oxum pela mão e entregou à Oxalá dizendo:

- Aqui está a vossa zeladora, sã e salva de todo mal que desejaram e fizeram para ela para que ela ficasse odiada por vós.

Oxalá agradecendo a Oxum disse:

- Oxum, em agradecimento a tudo o que fizestes de bem e para amenisar os sofrimentos de Omon Oxum eu, Oxalá, prometo levar ela de volta para o meu palácio e de hoje em diante nunca hei de me separar desta pena vermelha que é o Ekodidé e que será o unico sinal desta côr que carregarei sôbre o meu corpo.

Ase O, Epa Baba, Yeyeo Yalode Osun!

Axexe - Tomar o Osu de um iniciado



Olá irmão de axe!

neste topico vamos falar sobre o axexe (asese). Esse ato que ainda é cheio de preconceitos e misterios para muitos da religião.

Esta obrigação que se faz após a morte, para que o espírito do mesmo possa se desprender das coisas que foram iniciadas em seu orí. Sem esta obrigação o espirito vai continuar vinculado a terra, a sua iniciação e as coisas que pertenceram a esse iniciado, causando problemas para o seu caminho no mundo espiritual.

Hoje em dia, é um tanto dificil fazer essa obrigação diretamente na cabeça de muitos iniciados, por varios motivos, fazendo-se necessario uma representação do mesmo.

No dia do ritual funebre, o responsavel pode fazer tal obrigação em cima de uma cuia (cabaça). O valor liturgico é igual ao feito na cabeça do iniciado. Ori Òdè (a cabeça fisica, que sai do ventre da mulher e vem para o mundo) Ori Inu (a essencia de nossa consciencia) que segue para se encontrar com Ori Sese no Orun.

Essas se unem e levam nosso espirito ate os pés de Olodumare, nos apresentando ao mesmo. Ikú é uma entidade dotada de significado proprio e especifico, tem seu ihuwase, isto é, existencia e natureza propria.

Ikú é um ebora pertencente ao grupo dos guerreiros do orum, considerada um irum-mole filho das divindades Obatala e Oduduwa. Não tendo lugar fixo, Ikú roda o mundo para realizar seu trabalho ajudando a manter o equilibrio da natureza.

É considerado uma entidade dubia, estando ligada ao fim da existencia como tambem a criação, pois foi Ikú que recolheu a lama de Nana para que Orisala fizesse o seres habitantes do Aiye (terra). É a unica divindade que tomara todo ser existente um dia e o devolverá ao seio da terra. Em sua mão carrega o kumon, um cajado poderoso e perigoso, ferramente indispensavel e auxiliar no cumprimento de suas funções .

Todos os iniciados tem direito aos rituais funebres, assim tambem como tambem aqueles que participaram de alguma forma para a construção do axe, como depenar, lavar, cozinhar e tudo o que está ligado ao axe tem direito a uma certa obrigação de encaminhamento ao órun, para que seu espirito possa ser reconhecido dentro de seus ancestrais. Não sendo obrigatorio para aqueles que nao passaram pelos rituais de iniciação.

Já quando se trata de zeladores de santo, a obrigação deve-se começar no mesmo dia do enterro, por sete dias de obrigações. Porem se não tiver condições para começar no mesmo dia, deve-se fazer um ritual onde informará ao egun ancestral o motivo de não poder dar-se inicio ao ritual imediatamente. A cabaça tem a representação do ventre materno onde somos criados, assim o som é retirado do ventre que está chamando o espirito para ser reverenciado. O Asese é feito no intuito de que tudo que tenha ligação com o morto seja desfeito, tanto na parte iniciatoria como na parte material. Os familiares consaguineos e espiritual devem participar dessa obrigação a qual fala em cantigas os feitos do falecido e os novos caminhos que ele vai precisar seguir dentro dessa nova jornada.

Dentro da parte liturgica, o asese, vem ter outra função, faz com que o espirito do falecido tenha uma apresentação aos seus ancestrais, dando a ele a passagem para o Orun, desvinculando sua energia da parte material e do culto lesse Orixa.

Obrigações são feitas de acordo com cada nação e rito, para que o espiritio possa ser recebido dentro de sua nação pelos seus ancestrais. Devemos ressaltar que cada nação tem seu ritual funebre especifico e assim cada um deve ser respeitado dentro daquilo que já é tradição dentro de seu axé!.

Outro aspecto que devemos respeitar tambem é que Egun tem nação! Muitos declaram que isso não seja verdade, porem Ori somente reconhece aquilo que foi iniciado na feitura do santo. Todos que trocam de nação, tem que obrigatoriamente passar por certos rituais onde este seja apresentado para a nova nação, isso permitira que Ori reconheça o que está recebendo. É importante que o povo de santo saiba os rituais funebres para acolher os entes queridos e familiares atravez do ritual do asese junto aos ancestrais, evitando assim a procura de outras religiões para tal fim.

Assim como pretendemos um dia ter o acolhimento de nossos ancestrais, devemos hoje dar aos falecidos o caminho conforme dito por Obatala.

Existe na tradição Yoruba, no culto de Ifá, algumas interdições para algumas pessoas, que não se aplicam ao candomble. Por exemplo, em Ifá, os suicidas, as pessoas que morrera de desastres, as que não tiveram proles, etc não tem direito a asese e são enterradas pura e simplesmente como um não pertencente a regilião, porem em nossa terra, desde que haja uma iniciação a pessoa tem direito a receber os ritos funebres conforme prescritos.

Ase


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Porque Jogamos agua na rua

Foto: Porque Jogamos Água à Rua?

A misteriosa Religião dos Òrìsàs é norteada de costumes e dogmas, um deles é aquilo que chamamos de “despachar a rua”, que condiz em jogar três punhados de água, antes de entrar ou sair de casa. Mas porque fazemos isso? Primeiramente é importante recordarmos da importância da água na nossa cultura. No Candomblé não se faz nada sem água, ela que umidifica, resfria e fertiliza. Nós mesmos, antes de nascermos, no útero de nossa mãe, ficamos o período gestacional na água do ventre materno, somente isso já seria o suficiente para sermos gratos à água diariamente, afinal, sem ela não existiríamos.

Há muitos momentos em que despachamos a porta. As ocasiões mais comuns são ao acordamos, ao sairmos de casa e ao retornarmos para casa. Mas não são somente nesses momentos. Por exemplo, há determinadas cantigas que retratam um momento de muita turbulência na vida do Òrìsà, podendo despertar sua cólera se entoadas em momentos inoportunos. Nessas situações, o Babalòrìsà ou Ìyálòrìsà, sempre atento, solicita à uma antiga egbon, que jogue água à rua, apaziguando o Òrìsà que foi recordado de um momento adverso em sua vida no Aye.

Em suma, em todos esses momentos, o objetivo é apaziguar. Há uma frase em yorùbá que diz “Somente a Água Fresca Apazigua o Calor da Terra”. Ao acordamos, despachamos a porta, recitando palavras que tem por objetivo, pedir que aquele dia seja de tranqüilidade e de harmonia. Quando estamos saindo de casa, jogamos água à rua, rogando à Èsù Oná (O Senhor dos Caminhos), que aquela água, apazigúe os caminhos que vamos percorrer e que, sobretudo, não nos deparemos com situações que nos exponha a riscos.

Ao entrar na Casa de Candomblé, por exemplo, despachamos a rua, pedindo licença aos Donos da Porteira, reverenciando-os sempre. Em muitas casas de Candomblé a porteira está sempre aberta, isso não significa que não há dono, muito pelo contrário. Nesse aspecto, pedimos licença (Ago) aos Donos da Porteira, mostrando nosso respeito e, pedindo que a água resfrie a terra, até o momento em que, vamos nos purificar por meio do Omi Ero ou Omi Agbo, para poder então, partilhar do convívio no Terreiro de Asè.

Por isso, jamais se esqueçam, apazigúe a terra antes de caminhar sobre ela.

O Ipadé de Exú

O Ipadé (também chamado popularmente, embora erradamente, de Padê) de Exú é um ritual executado antes de qualquer cerimónia interna ou pública do Candomblé, Exú é sempre o primeiro a ser homenageado.

De manhã, consuma-se o sacrifício; os preparativos culinários e a oferenda às divindades ocupam o restante do dia; a cerimónia pública propriamente dita começa ao fim da tarde, quando o sol se põe e prolonga-se por muito tempo, noite adentro.

Qualquer cerimónia tem início, obrigatoriamente, com o Padê de Exú. Costuma-se dizer que essa cerimónia é para despachar Exú, mas isso não é correcto, pois com esta cerimónia apenas colocamos Exú como guardião e mensageiro, para avisar os Orixás de que estaremos precisando das suas presenças no Aiyé (Terra).

Exú é, na verdade, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural, o intérprete que conhece ao mesmo tempo a língua dos mortais e a dos Orixás. É pois ele o encarregado – e o Ipadé não tem outra finalidade – de levar aos Orixás o chamamento dos seus filhos.

O Ipadé é celebrado por duas das filhas-de-santo mais antigas da casa, a Dagã e a Sidagã, ao som de cânticos em língua Iorubá, cantados sob a direcção da Iyà Têbêxê e sob o controle do Babalorixá ou Yalorixá, diante de uma quartinha com água e um prato de barro contendo o alimento de Exú, e um outro recipiente com o alimento favorito dos ancestrais.

Embora o Ipadé se dirija antes de tudo a Exú, comporta também obrigatoriamente uma cantiga aos mortos (Essá) ou para os antepassados do Candomblé, alguns de entre eles são mesmo designados pelos seus títulos sacerdotais.

A quartinha, o recipiente e o prato serão levados para fora do barracão onde se desenrolarão as restantes cerimónias.

A festa propriamente dita pode então começar.
oloje iku ike obarainan

Olá irmãos, nesse post vou colocar sobre a importancia de jogar agua na rua. Porque desse costume que repetimos sem saber o motivo real!

A misteriosa Religião dos Òrìsàs é norteada de costumes e dogmas, um deles é aquilo que chamamos de “despachar a rua”, que condiz em jogar três punhados de água, antes de entrar ou sair de casa. Mas porque fazemos isso? Primeiramente é importante recordarmos da importância da água na nossa cultura. No Candomblé não se faz nada sem água, ela que umidifica, resfria e fertiliza. Nós mesmos, antes de nascermos, no útero de nossa mãe, ficamos o período gestacional na água do ventre materno, somente isso já seria o suficiente para sermos gratos à água diariamente, afinal, sem ela não existiríamos.

Há muitos momentos em que despachamos a porta. As ocasiões mais comuns são ao acordamos, ao sairmos de casa e ao retornarmos para casa. Mas não são somente nesses momentos. Por exemplo, há determinadas cantigas que retratam um momento de muita turbulência na vida do Òrìsà, podendo despertar sua cólera se entoadas em momentos inoportunos. Nessas situações, o Babalòrìsà ou Ìyálòrìsà, sempre atento, solicita à uma antiga egbon, que jogue água à rua, apaziguando o Òrìsà que foi recordado de um momento adverso em sua vida no Aye.

Em suma, em todos esses momentos, o objetivo é apaziguar. Há uma frase em yorùbá que diz “Somente a Água Fresca Apazigua o Calor da Terra”. Ao acordamos, despachamos a porta, recitando palavras que tem por objetivo, pedir que aquele dia seja de tranqüilidade e de harmonia. Quando estamos saindo de casa, jogamos água à rua, rogando à Èsù Oná (O Senhor dos Caminhos), que aquela água, apazigúe os caminhos que vamos percorrer e que, sobretudo, não nos deparemos com situações que nos exponha a riscos.

Ao entrar na Casa de Candomblé, por exemplo, despachamos a rua, pedindo licença aos Donos da Porteira, reverenciando-os sempre. Em muitas casas de Candomblé a porteira está sempre aberta, isso não significa que não há dono, muito pelo contrário. Nesse aspecto, pedimos licença (Ago) aos Donos da Porteira, mostrando nosso respeito e, pedindo que a água resfrie a terra, até o momento em que, vamos nos purificar por meio do Omi Ero ou Omi Agbo, para poder então, partilhar do convívio no Terreiro de Asè.

Por isso, jamais se esqueçam, apazigúe a terra antes de caminhar sobre ela.

O Ipadé de Exú

O Ipadé (também chamado popularmente, embora erradamente, de Padê) de Exú é um ritual executado antes de qualquer cerimónia interna ou pública do Candomblé, Exú é sempre o primeiro a ser homenageado.

De manhã, consuma-se o sacrifício; os preparativos culinários e a oferenda às divindades ocupam o restante do dia; a cerimónia pública propriamente dita começa ao fim da tarde, quando o sol se põe e prolonga-se por muito tempo, noite adentro.

Qualquer cerimónia tem início, obrigatoriamente, com o Padê de Exú. Costuma-se dizer que essa cerimónia é para despachar Exú, mas isso não é correcto, pois com esta cerimónia apenas colocamos Exú como guardião e mensageiro, para avisar os Orixás de que estaremos precisando das suas presenças no Aiyé (Terra).

Exú é, na verdade, o Mercúrio africano, o intermediário necessário entre o homem e o sobrenatural, o intérprete que conhece ao mesmo tempo a língua dos mortais e a dos Orixás. É pois ele o encarregado – e o Ipadé não tem outra finalidade – de levar aos Orixás o chamamento dos seus filhos.

O Ipadé é celebrado por duas das filhas-de-santo mais antigas da casa, a Dagã e a Sidagã, ao som de cânticos em língua Iorubá, cantados sob a direcção da Iyà Têbêxê e sob o controle do Babalorixá ou Yalorixá, diante de uma quartinha com água e um prato de barro contendo o alimento de Exú, e um outro recipiente com o alimento favorito dos ancestrais.

Embora o Ipadé se dirija antes de tudo a Exú, comporta também obrigatoriamente uma cantiga aos mortos (Essá) ou para os antepassados do Candomblé, alguns de entre eles são mesmo designados pelos seus títulos sacerdotais.

A quartinha, o recipiente e o prato serão levados para fora do barracão onde se desenrolarão as restantes cerimónias.

A festa propriamente dita pode então começar.


Ase o

Etu - A galinha d'angola



Olá irmãos de axe!

nesse post quero falar a respeito dessa que não pode faltar em nenhum ritual para orixa. A etu.

A Galinha de Angola era uma ave muito feia e por isso, afastava as pessoas de perto de si, mesmo sendo muito rica. Ela vivia abandonada em uma grande floresta em meio a sua riqueza.

Cansada de ser desprezada, resolveu consultar o oráculo sagrado no Palácio de Obatalá. Quando lá chegou, o Sacerdote a colocou para fora, dizendo que ela deveria estar usando um Alá branco para entrar na casa do Grande Deus Funfun. Ainda mais triste, a Galinha de Angola resolveu ir para outra floresta e de uma vez por todas, deixar de conviver perto de
tudo e todos.

Após 21 dias caminhando, a Galinha de Angola parou em uma floresta, sem saber que era sagrada (Igbodu). Lá, ela encontrou um velho maltrapilho gemendo de dores. Esse velho disse:

“Pare! estou muito doente e não tenho dinheiro para me alimentar, me dê o que comer e beber, por favor,”!

A Galinha de Angola pegou tudo o que tinha e deu ao velho homem que, após saciar a sua fome e sede, caiu dormindo em sono profundo. A Galinha de Angola continuou preocupada com o velho e ficou ao seu lado enquanto ele dormia. Ao acordar, o velho perguntou-lhe, porque ainda estava lá, fazendo companhia para aquele velho maltrapilho.

A Galinha começou a dizer que não poderia abandoná-lo, pois ele estava precisando dela, dize sua história ao velho, falando que todos lhe achavam feia, com um aspecto repugnante e que não mais queria viver.

O Velho respondeu que o seu exterior não importava em nada, pois por dentro, ele era um dos seres mais belos que existia. Disse que aquela era uma floresta sagrada e que na verdade, ele era Obatalá. A Galinha de Angola ficou surpresa com a revelação, pedindo-lhe desculpas por entrar na floresta sagrada.

Obatalá pegou Efun e começou a pintar a Galinha de Angola, que ficou muito bonita. Além disso, Obatalá disse que, o maior símbolo para os iniciados era o Osù e modelou um na superfície da cabeça da Galinha de Angola, dizendo que, a partir daquele momento, ela seria o Animal mais Sagrado do Culto aos Òrìsàs, pois somente ela, traz o Grande Osù em sua cabeça.

Essa história é um grande ensinamento, pois mostra que não podemos julgar ninguém por sua aparência, mostra que não devemos jamais negar comida e bebida. Nossa religião oferta, ajuda e acolhe, essa é mensagem que devemos guardar.

Naquele tempo a galinha d’angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata. Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o adivinho de Obatalá para que lhe indicasse um ebó que lhe permitisse conseguir uma companheira como todos os demais bichos possuíam. Chegando à casa do adivinho, o pobre animal não foi por ele recebido porque, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orixá do Branco era cultuado, pois a cor preta era considerada como uma grande ofensa.

Desolado, o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.

Depois de muito caminhar encontrou, numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:

- "DÁ-ME UM POUCO DE COMIDA E DE ÁGUA, POIS ESTOU EXAUSTO E JÁ NÃO POSSO CONSEGUIR ALIMENTO PARA MINHA PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA".

Condoído, Etú serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.
Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etú que preocupado, velava por seu sono.
Já refeito, o velho perguntou:
- "que fazes sozinho no interior desta floresta? não sabes que ela é sagrada e que só os iniciados podem adentrá-la?”.
- "ando sem destino. nasci só e sempre vivi só. minha aparência é muito repugnante e minha feiura impede que as pessoas permitam que me aproxime delas”. Replicou a ave.
- "tua feiura exterior nada é, comparada com tua beleza interior. aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei um pouco a tua aparência”.

Ordenou o velho.
Pegando pó de efun o velho, que outro não era que o próprio OBATALÁ, soprou sobre o corpo de Etú deixando-o, a partir de então, todo pintalgado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo:

- "A PARTIR DE HOJE, SERÁS O ANIMAL MAIS IMPORTANTE NA RELIGIÃO DOS ORIXÁS, NADA PODERÁ SER FEITO SEM A TUA COLABORAÇÃO E, COMO SINAL DESTA IMPORTÂNCIA, SERÁS O ÚNICO DENTRE OS SERES VIVOS A PORTAR O OXÚ, SÍMBOLO DA ALIANÇA FORMALIZADA ENTRE O INICIADO E SEU ORIXÁ. POSSUIRÁS, ALEM DISTO, TANTAS FÊMEAS QUANTAS QUISERES E TUA PROLE SERÁ NUMEROSA E SE ESPALHARÁ SOBRE A TERRA”.

Por este motivo a galinha d'angola possui o corpo coberto de pintas e carrega sobre a cabeça uma crista cônica, assemelhando-se ao neófito durante o ritual da iniciação. Sua presença em todas as cerimônias iniciáticas é indispensável e todos os Orixás a exigem em seus rituais.


Ase

Logun Ede

Logun Ede

Logunedé ou Logun Ede, do iorubá Lógunède, é um orixá africano que na maioria dos mitos costuma ser apresentado como filho de Oxum Ipondá e Oxóssi Ibualama, do iorubá Ibùalámo. Segundo as lendas, vive seis meses nas matas caçando com Oxóssi e seis meses nos rios pescando com Oxum. É um orixa masculino. É cultuado na nação Ijexá como sua mãe, mas também nas nações Ketu e Efan, sendo o seu culto muito difundido no Rio de Janeiro.

No entanto, existem outras versões acerca de sua filiação. Se na maioria dos mitos, Logunedé surge como filho de Oxum e Oxóssi, em outros, um pouco mais raros, aparece como filho de Ogun e Iansã. Há, ainda, histórias que contam a lenda de Logunedé como filho desses quatro Orixás, apresentando-o como nada mais, nada menos que uma representação dos Orixás Gêmeos, Ibeji.

Simultaneamente caçador e pescador, Logunedé é o herdeiro dos axés de Oxum e Oxóssi que se fundem e se mesclam como mistério da criação, trata-se de um orixá que tem a graça, a meiguice e a faceirice de Oxum à alegria, à expansão de Oxóssi. Se Oxum confere a Logunedé axés sobre a sexualidade, a maternidade, a pesca e a prosperidade, Oxóssi lhe passa os axés da fartura, da caça, da habilidade, do conhecimento.

Essa característica de unir o feminino de Oxum ao masculino de Oxóssi, muitas vezes o leva a ser representado como uma criança, um menino pequeno ou adolescente, formando mais uma tríade sagrada na História das religiões. Com Logunedé, completa-se o triângulo iorubá pai, mãe e filho que também se repete nas trilogias católica (Pai, Mãe e Espírito Santo), egípcia (Ísis, Osíris e Hórus), hindu e tantas outras.

Como símbolo da pureza, muitas vezes Logunedé também é visto como um ser andrógino. Ao contrário do que muitos pensam, Logun Ede não é de características masculina e feminina, não é bissexual. Na verdade possui uma grande relação com Òsun, sua mãe e com Erinlé, seu pai, trazendo consigo a personalidade desses dois Òrìsà e algumas características marcantes, mas nada que o transforme em um hermafrodita que durante seis meses é Oboró e seis meses Ìyábá como algumas pessoas assim o dizem e usam deste artifício para denotações homossexuais.

Existem templos para Logun Ede em Ilesa, seu lugar de origem, onde em alguns itans é citado como um corajoso e poderoso caçador, que tamanha coragem é relacionada a de um leopardo. Casado com três esposas. De culto diferenciado e totalmente ligado ao culto a Òsun, é um Orisa de extremo bom gosto. Seus objetos devem permanecem junto aos assentos de Osun e sempre quando agradado devemos agradar sua mãe. Tem predileção ao dourado, é um Orisa muito vaidoso, é considerado o mais elegante de todos os Orisas.

De Òsun, sua mãe, Logun Ede herdou o lado belo e vaidoso. Pois Òsun lança mão de seu dom sedutor para satisfazer a ambição de ser a mais rica e a mais reverenciada. Deusa da fertilidade, na Nigéria é dela o rio que leva o seu nome e no Brasil dela são as águas doces dos lagos, fontes e rios. Água que mata a sede dos humanos e da terra, que assim se torna fecunda e fornece os alimentos essenciais à vida. Òsun menina dengosa, passando pela mulher irresistível até a senhora protetora, Òsun é sempre dona de uma personalidade forte, que não aceita ser relegada a segundo plano, afirmando-se em todas circunstâncias da vida. Com seus atributos, ela dribla os obstáculos para satisfazer seus desejos.

De Erinlé, seu pai, Herdou o dom da caça pois Erinlé é da família dos Ode e seu símbolo é o ofá, a lança de caça e o ogue. Erinlé é a representação do desenvolvimento do homem, conhece os segredos da caça, também símbolo de prosperidade e formação de comunidades. Ele busca o alimento com coragem e é considerado o guerreiro das matas, é corajoso, viril e Logun-odé tem estas características, é um Òrìsà guerreiro. Mas se, em várias tradições, ele é considerado um orixá masculino, em algumas é confundido com a homossexualidade ou a bissexualidade, o que ocorre quando se interpreta ao pé da letra o mito que afirma viver Logunedé seis meses como homem e seis meses como mulher. Na verdade, a interpretação mais aceita seria que essa se trata de uma metáfora para falar dos axés herdados por ele de seus pais, Oxum e Oxóssi.

Após ser abandonado e viver com Ogum, aprende com ele as artes da guerra e da metalurgia. É coroado por Iansã como o príncipe dos Orixás. É amigo íntimo de Yewá, seriam eles os Orixás que se complementam, considerados o par perfeito.

Num mito raro, Logunedé se perde no caminho entre as casas de Oxum e Oxóssi, é encontrado pelo velho Omolu que o ampara e protege. Com Omolu, Logunedé aprende a arte da cura e a feitiçaria. O seu primeiro nome, Logun, no Brasil se mesclou ao segundo, Edé, nome da cidade iorubá na qual o seu culto se fortaleceu, formando Logunedé. Logun pode ser uma abreviatura de Ologun que, em iorubá, quer dizer feiticeiro.

Então, feiticeiro, caçador, pescador, príncipe guerreiro, esses são alguns títulos, alguns epítetos dados à Logunedé. Para Mãe Menininha do Gantois, "Logun é santo menino que velho respeita".

Costuma ser cultuado no candomblé, mas não na umbanda.

É filho de ÒSÓÒSÌ YBUALAMO e ÒSUN YPONDÀ. Na parte masculina êle veste azul claro e na feminina amarelo ouro. Suas ferramentas ( IBÁ ) levam sete espadas pequenas, amarelas, sete ofas pequenos, amarelos; usa arco e flecha, um leque e uma trombeta ( berrante ) , mas delicado. Seus bichos são o faisão, canário da terra, coelho e periquito. LOGUN não come frangos, e sim galo e galinha garnizé, porco da índia, tatu e bode castrado.

Tudo dêle é dobrado.

É a divindade das águas doces e do mato baixo.

Todos comem com ÈSÙ e ÒSÓÒSÌ. Seus fundamentos estão em sua mãe de criação, ONIRA, sem ela LOGUN não caminha. Toda pessoa de LOGUN tem que assentar ONIRA e de ONIRA tem que assentar LOGUN. LOGUNEDE assenta, também, YBUALAMO, YPONDA e OPARÁ.






Orixa Exu

Esú


Descrição esu 



É o 1º nascido da existência e, como tal, o símbolo do elemento procriado. Mensageiro dos orixás , elemento de ligação entre as divindades e os homens, a um tempo mais próximo do mundo terreno e mais perto do elevadíssimo espaço celeste por onde transita Òrúnmìlà, é um orixá, é sempre a primeira divindade a receber as oferendas, justamente para que atue como um aliado e não como um rival que perturbe os procedimentos místicos desenvolvidos durante os rituais. Coerente com seu lugar mítico privilegiado, é ele que abre esse "corpus mitopoético" .

Princípio dinâmico e princípio da existência individualizada, Exú não pode ser isolado ou classificado em nenhuma das categorias. Ele é como o axé (que ele representa e transporta), participa forçosamente de tudo. Segundo Ifá cada um tem seu próprio exú e seu próprio Olorún em seu corpo. O nome de exú é conhecido, invocado e cultuado junto ao orixá. E é Ifá quem revela e permite-nos sabê-lo.

Quem delegou esse poder à exú foi Olorún ao entregar-lhe o àdó-iràn , a cabaça que contém a força que se propaga. Esta cabaça está presente em seus "assentos", é uma cabaça de pescoço grande, e basta exú apontá-la a algo para transmitir seu axé.

O Òkòtó representa o crescimento Agbárá - poder que permite a cada um se mobilizar e desenvolver suas funções e seus destinos. Por isso recebe o título de Elegbára (senhor do poder).

Oxé-tuwá, representante direto de exú, simboliza um de seus aspectos mais importantes, o de ser encarregado e transportador das oferendas, Òjise-ebo.

Exú Elegbára = senhor do poder...Conhecido como Elegbára (ele=dono, senhor ; agbara=poder), contém muitas definições e funções. É o companheiro de Ogum.

Exú Yangi = pedra vermelha de laterita, pedaços de laterita cravados na terra, indicam o lugar de culto à Exú. Yangi é a representação mais importante de Exú e, é assim invocado:

EXÚ YANGI OBÁ BABÁ EXÚ

EXÚ YANGI rei, pai de todos os Exú.

Exú Yangi é o Exú ancestre, o Exú Agbá.

Exú Àgbá = pai-ancestre (representação coletiva de todos os exús individuais)

Exú Obá - rei-de-todos

Exú Alakétu = título dado a exú pelos kétu da Bahia - rei do povo Kétu -

Exú Elebo = senhor-das-oferendas

Exú Ojìse-ebo = encarregado-e-transportador de oferendas

Exú Elérú = senhor do erú (carrego)

Exú Olòbe = proprietário e senhor da faca

Exú Enú-gbárijo = explicitador de mensagens

Exú Bara = o rei do corpo (obá + ara) (princípio de vida individual)

Exú Odara = aquele que guia (mostra o caminho, vai na frente)

Exú por ser resultado da interação de um par, é o portador mítico do sêmen e do útero ancestral e como princípio de vida individualizada ele sintetiza os dois, É por isso que freqüentemente, e, é representado pela forma de um par, uma figura masculina e uma feminina, unidos por fileiras de búzios. Exú está profundamente ligado à atividade sexual. Representados por um falo (pênis), ou suas representações simbólicas como: os penteados de forma fálica, sua arma, o ogó - bastão em forma de pênis -, sua lança; já as cabacinhas representam seus testículos.

Exú também está representado com objetos à sua boca; dedo, cachimbo e principalmente flauta, que vem representar a atividade sexual, como absorção e expulsão, ingestão e restituição, com a flauta Exú chama seus descendentes. Portanto símbolo por excelência da fecundidade. Exú jamais toma a forma de procriador. Exú é cultuado tanto como lésè-égún, como lésè-orixá, e apenas por seu intermédio é possível cultuar os orixás e as Iyá-mi (mãe ancestre). Não é apenas Òjisé-ebo, mas principalmente Òjisé, o mensageiro, fazendo a comunicação entre tudo que é oposto.

Com efeito a relação entre Exú e Ifá, é indiscutível, e Exú está representado em um dos principais emblemas característicos do culto à Ifá , o òpón, onde Exú tem sua representação em forma de rosto, de triângulos e losangos. É no seu papel de princípio dinâmico, de princípio de vida individual e de Òjise ou elemento de comunicação, que Exú Bará está indissoluvelmente ligado à evolução e ao destino de cada indivíduo. Como tal ele também é senhor dos caminhos Exú Olònà, e ele pode abri-los ou fechá-los.

Exú fica à esquerda dos caminhos. O elemento procriado, é a prova do poder das Iyá-mi, é o pássaro, o Elèye. Exú foi o primeiro a usar ekódide (pena de uma espécie de papagaio) na cabeça, e foi isto que o tornou decano de todos os orixás. Alguém que coloca ekódide na cabeça sem necessidade, provoca a cólera de Exú.

Enganosamente ou mal intencionados, os primeiros missionários que chegaram à África, compararam-no ao diabo, por algumas de suas formas, artimanhas e poderes atribuídos. Ele tem as qualidades dos seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, havendo mesmo pessoas na África que usam orgulhosamente nomes como Èxúbíyìí (concebido por exú), ou Èxùtósìn (Exú merece ser adorado).

Como personagem histórica, Exú teria sido um dos companheiros de Odùduà, quando da sua chegada à Ifé, e chamava-se Exú Obasin. Tornou-se mais tarde, um dos assistentes de Orúnmilá, que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá. Segundo Epega, Exú, tornou-se rei de Kêto sob o nome de Exú Alákétu. É Exú que supervisiona as atividades do rei em cada cidade: o de Oyó é chamado Exú Akesan.

Como orixá, diz-se que veio ao mundo com um porrete, chamado, ogó, que teria a propriedade de transportá-lo, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes.

Lendas

Um dia, foram juntas ao mercado Oyá e Oxum, esposas de Xangô, e Iemanjá, esposa de Ogum.
Exu entrou no mercado conduzindo uma cabra.

Ele viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia.

Aproximou-se de Iemanjá, Oyá e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orunmila.

Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido.

Iemanjá, Oyá e Oxum concordaram e Exu partiu.

A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Oyá e Oxum puseram os dez búzios de Exu a parte e começaram a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oyá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.

Iemanjá disse: "É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais".

Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.

Piá intercedeu, dizendo que , em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio.

As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios eqüitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oyá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Iemanjá a maior parte. Pediram a outra pessoa que dividisse eqüitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Iemanjá e Oyá.

Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oyá. Mas Iemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oyá. Não havia meio de resolver a divisão. Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: "Onde está minha parte?". Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo eqüitativo. Exu deu três a Iemanjá, três a Oyá e tre a Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orum Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados.Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser. Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. "Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios." Iemanjá, Oyá e oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada. Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.

Como se explica a grande amizade entre Orunmila e Exu, visto que eles são opostos em grandes aspectos ?

Orunmila, filho mais velho de Olorun, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exu, pelo contrario, sempre se esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orunmila era calmo e Exu, quente como o fogo.

Mediante o uso de conchas adivinhas, Orunmila revelava aos homens as intenções do supremo deus Olorun e os significados do destino. Orunmila aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exu os emboscava na estrada e fazia incertas todas as coisas. O caráter de Orunmila era o destino, o de Exu, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.

Uma vez, Orunmila viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séqüito não levavam nada, mas Orunmila portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os Obis que usava para ler o futuro.

Mas na comitiva de Orunmila muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orunmila. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola.

Até que Orunmila encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola".

Quando orunmila chegou em casa, refletiu sobre o incidente e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orunmila esperou.

Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orunmila e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orunmila lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar.

A esposa de Orunmila pareceu compreende-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado.

Outro homem veio chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exu chegou.

Exu também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orunmila não lhe devia nada. Exu disse que não. A esposa de Orunmila persistiu, perguntando se Exu não queria a parafernália de adivinhação

Exu negou outra vez. Aí Orunmila entrou na sala, dizendo: "Exu, tu és sim meu verdadeiro amigo!".

Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exu e Orunmila.

Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.

Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens ? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.

Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção.Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".

Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã.

Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".

Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".

Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".

Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens.Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.

Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu.

É preparar-lhe um golpe mais astuto que aqueles que ele mesmo prepara.

Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos, a chuva não caía. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas queixas e gemidos. Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com apetite desta excelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado.

Exu teve sede.

Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede! Exu foi à torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu.

Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória. E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar! Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta.

Havia chovido bastante. Mais, seria desastroso!

Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.

Exú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se realizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos.

Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação.

Então, eles pediram a Exú, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar.

Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos.

Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores.

Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida.

Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.

Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás. E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.

Um dia Orunmilá foi procurar Osalá em seu palácio. Orunmilá e sua mulher queriam ter um filho. Chegando ao palácio de Osalá, Orunmilá encontrou Exú Yangui sentado à esquerda da entrada principal. Já dentro do palácio, e diante do velho rei, Orunmilá fez seu apelo, escutando de Osalá uma resposta negativa.

O velho rei afirmou-lhe que ainda não era tempo da chegada de um filho. Orunmilá, insatisfeito e ao mesmo tempo curioso, perguntou à Osalá quem era aquele menino sentado à porta do palácio e pediu ao rei, se poderia levá-lo como filho. Osalá garantiu-lhe que não era o filho ideal de se ter, ao que Orunmilá insistiu tanto em seu pedido que obteve a graça de Osalá. Tempos depois nasceu Exú, filho de Orunmilá. Para espanto dos pais, nasceu falando e comendo tudo que estava a sua volta, acabando por devorar a própria mãe. Exú aproximou-se de Orunmilá para também comê-lo, entretanto o adivinho tinha consigo uma espada e enfurecido partiu para matar o filho. Exú fugiu, sendo perseguido por Orunmilá, que a cada espaço do céu alcançava-o, cortando Exú em duzentos e um pedaços. A cada encontro, o ducentésimo primeiro pedaço transformava-se novamente em Exú. Assim terminaram por atingir o último espaço sagrado e, como não tinham mais saída, resolveram entrar num acordo. Exú devolveu tudo o que havia comido, inclusive sua mãe, em troca seria sempre saudado primeiro em todos os rituais.




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